segunda-feira, 18 de maio de 2015

XVIII EDIÇÃO DO PROGRAMA MUNICIPAL DE FOMENTO À DANÇA

DEVOLUTIVA PÚBLICA

(Carta aberta à comunidade da Dança da cidade de São Paulo)


A comissão de seleção do XVIII Edital de Fomento à Dança da Secretaria Municipal de Cultura, composta por Marisa Lambert (Presidente), Mônica Bammann, Jussara Miller, Kleber Lourenço, Ângela Nolf, Sayonara Pereira e Vanessa Macedo, vem a público compartilhar seu olhar sobre o panorama geral construído pelos projetos inscritos nessa edição e esclarecer as diretrizes avaliativas que orientaram o processo de apreciação das 46 propostas recebidas, com o intuito de dar um retorno à comunidade da dança e propiciar uma reflexão sobre questões que abrangem o contexto deste edital.

Lembramos inicialmente que o recurso total para este edital foi de R$ 6.789.343,69 para gastos relativos aos projetos no ano corrente e o valor máximo por projeto, que podem formatar-se em até 24 meses (dois anos), foi de R$ 734.226,82. No conjunto dos projetos:

-       21 projetos propuseram tempo de execução de 18 meses ou mais;
-       13 projetos, entre 11 e 17 meses;
-       11 projetos com até 10 meses de execução.


Apontamentos sobre os projetos:

Considerando-se as edições do Fomento em perspectiva, a comissão identificou um patamar qualitativo bastante positivo nos projetos apresentados, havendo na grande maioria consistência entre a trajetória das Cias ou Núcleos e a pesquisa de linguagem proposta, além da preocupação com uma apresentação clara e bem ordenada dos conteúdos. O percurso de avaliação exigiu um refinamento de olhar, uma discussão detalhada de todas as proposições e debate de suas questões.

Especialmente nessa XVIII Edição, ressaltou-se a inscrição de vários projetos centrados na PESQUISA artística, enfocando processos de investigação, estudo ou verticalizações em linguagens de interesse, objetivos ou parcerias de trabalho; não evidenciando, necessariamente, a produção ou divulgação de trabalho artístico (um momento mais de olhar para dentro, se reavaliar, amadurecer pesquisas e procedimentos). Outra tendência foi projetos propondo revisões de trajetórias.

Notou-se que alguns projetos ainda estão se ajustando à possibilidade de realização de suas ações dentro de um período mais alongado de tempo, o que pontuou a necessidade de maior reflexão sobre a relação plano de trabalho x tempo de execução, a fim de se equilibrar melhor a quantidade/qualidade de proposições para um período determinado de tempo, evitando a percepção do excesso ou escassez das ações elencadas, sejam elas de pesquisa ou compartilhamento. Por outro lado, nessa edição também foram identificados projetos que, mesmo com um menor tempo de duração, retrataram coerência quanto a essa relação em questão.

No caso dos projetos que enfocaram um produto cênico, destacou-se a importância do planejamento das ações de pesquisa em dança estar afinado com as diretrizes compositivas e dramatúrgicas descritas e/ou justificadas coerentemente.

Outra característica percebida, em alguns casos, foi a ênfase em se conceituar teoricamente o projeto, por vezes maior até do que de apresentar a potência da experiência artística. (Isto é, projetos que abordam fortes percursos teóricos de investigação, mas que nem sempre deixam claro o entrecruzamento desses com o material cênico em pesquisa ou desenvolvimento)

Ainda, a necessidade de envolver uma multiplicidade de conceitos – muitos assuntos, temas e discussões – fragilizou algumas propostas, ficando perdida a essência do que realmente o projeto desejava mostrar.


Critérios avaliativos e características das discussões da comissão:

A comissão procurou, em suas avaliações, validar fundamentalmente as diretrizes estabelecidas pela lei de Fomento, e reafirmadas pelo edital, que assinalam a relevância dos projetos apresentarem uma proposta voltada para a pesquisa e produção de linguagem em dança contemporânea. Apoiou-se na importância da continuidade, em contraponto com propostas isoladas, e na existência de um viés claro (o que não implica em linearidade) entre trajetória, pesquisa, projeto e cena artística.

Em discussões minuciosas envolvendo os sentidos artísticos e ético-políticos do edital e dos projetos em análise, uma questão reincidente e significativa para essa comissão foi o retorno que cada projeto concede à cidade de São Paulo, por meio de proposições de diálogo, trocas e compartilhamentos aventados pelos artistas. Como é pensado o envolvimento do público espontâneo? Acolhe-se apenas o público da dança? (principalmente considerando-se o número de projetos que focaram mais no desenvolvimento do próprio núcleo ou cia, na pesquisa artística, como mencionado, como se dá o intercâmbio com a cidade?)

Considerando-se a proposição de atividades como ateliês, aulas abertas, grupo de estudos, encontros, entre outras, ou a produção de livros, encartes, DVDs, suportes tecnológicos (blogs, sites, aplicativos), entre outros, prezou-se pela necessidade dessas ações e elementos estarem com relação direta ao objetivo do projeto, justificarem-se em uma rede interativa com a pesquisa artística.

Na apreciação dos projetos, independente da matriz que define o ponto de partida para a pesquisa e criação em dança (danças urbanas, populares ou étnicas), debateu-se longamente sobre o caminho que essas proposições estão traçando na interface com a dança contemporânea.

Questões referentes aos orçamentos:

Observou-se, por vezes, disparidades nas rubricas entre os membros da ficha de recursos humanos, levantando a problemática da qualificação profissional e a valorização do trabalho de cada artista / administrador / técnico.

Percebe-se que existem funções, a exemplo das técnicas, que já possuem um valor de mercado mais definido. No entanto, para outras funções, em que os recursos não são tão claros, existem muitas variáveis. Qual será o valor salarial médio de um coreógrafo, diretor, produtor, quando falamos de uma verba pública, um apoio financeiro que se volta para o coletivo?

Foi recorrente, no processo de revisão dos orçamentos e na analise das adequações, a discussão sobre a relação proposta entre valor total do projeto x tempo de duração. Questionou-se a diminuição do período de execução (corte do cronograma) como estratégia de readequação. Apontou-se a importância de uma reflexão sobre como indicar as incoerências no orçamento dos projetos e sobre como os grupos repensam essas incoerências a partir das porcentagens dos cortes (sejam eles gerais ou em rubricas especificas).  

Como o orçamento dialoga com um pensamento sobre o financiamento público e com a dança em relação a cidade de São Paulo?

Por fim, a Comissão destaca que em muitos casos a falta de outros financiamentos públicos é visível, o que deve ser continuamente problematizado com a classe artística.





São Paulo, 14 de Maio de 2015.

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