quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Nota da Secretaria Municipal de Cultura sobre a invasão da Galeria Formosa (Escola da Bailado)


Secretaria Municipal de Cultura divulga nota oficial sobre a invasão da Galeria Formosa
A Secretaria Municipal de Cultura (SMC) foi surpreendida com a invasão da Galeria Formosa, antiga Escola Municipal de Bailado, situada nos baixos do Viaduto do Chá, na noite do dia 02 de maio. O espaço está desde então ocupado por um pequeno grupo que, em carta endereçada à SMC, afirma que a invasão se justificaria pelo espaço estar ocioso, o que é totalmente falso. 

O espaço da Galeria Formosa está em plena utilização pela Secretaria de Municipal de Cultura. Até dezembro de 2013, sediava a Escola Municipal de Bailado, que foi transferida para a Praça das Artes e rebatizada como Escola Municipal de Dança, unindo-se ao complexo de formação artística da Fundação Theatro Municipal e contando hoje com 800 alunos regulares. De janeiro a abril deste ano, o prédio, que é tombado pelo patrimônio histórico, passou por algumas reformas, benfeitorias, limpeza e desinsetização, para ser preservado e utilizado em ações temporárias e permanentes voltadas à dança. A programação da Galeria foi, desde então, interrompida, assim como a circulação de pessoas em seus ambientes, já que os invasores fecharam a entrada para o público. 

Dessa forma, a invasão da antiga Escola de Bailado é totalmente ilegítima e ilegal. Ilegítima, pois se sustenta nas premissas equivocadas de ociosidade do espaço e de falta de diálogo com o poder público – ressalte-se que nunca houve pedido formal à SMC para utilização do espaço para atividades culturais pelos invasores. Ilegal, pois pleiteia a permanência habitacional no espaço e a sua gestão privada, sem qualquer tipo de seleção ou processo públicos, de um equipamento de responsabilidade da Prefeitura. A ocupação configura apropriação de um equipamento público, em plena utilização, por alguns poucos indivíduos que, em hipótese alguma, representam a totalidade dos grupos, coletivos, segmentos e interesses culturais da cidade. 

Ainda assim, apoiando-se no fundamento do constante diálogo, a Secretaria Municipal de Cultura não lançou mão de qualquer instrumento de repressão contra os invasores, pelo contrário, recebeu-os prontamente. Depois de três reuniões, as lideranças do movimento não apresentaram proposta alguma. Pelo contrário, divulgaram uma petição virtual que reivindica a “desapropriação” (sic) do equipamento público, e se negam a sair do espaço.  

Com base nesses esclarecimentos, e com a certeza de trabalhar por uma política cultural baseada no diálogo e na participação de todos os segmentos e linguagens da cultura de São Paulo, a Secretaria Municipal de Cultura reitera o caráter ilegítimo e ilegal da ocupação da antiga Escola de Bailado e a falta de responsabilidade pública dos invasores. 

Dessa maneira, para prosseguir no desenvolvimento de sua política de ampliação da cidadania cultural na cidade de São Paulo, por responsabilidade administrativa e respeito ao patrimônio público, a Secretaria Municipal exige que a antiga Escola de Bailado seja imediatamente desocupada e informa que está tomando as medidas legais necessárias
 para a retomada do espaço. 

Secretaria Municipal de Cultura

 



Devolutiva Pública | Comissão XV Edital de Fomento à Dança

A comissão de seleção do XV Edital de Fomento à Dança, dando continuidade ao processo de Devolutiva Pública das ações avaliativas, compartilha com os artistas e núcleos artísticos inscritos os procedimentos e ponderações sobre questões relativas ao contexto deste edital e à configuração do Fomento no cenário da dança de São Paulo. Trata-se das diretrizes e reflexões que nortearam os trabalhos desta comissão ao longo do processo de apreciação dos 54 projetos inscritos.

Com exceção da artista Mariana Muniz, que fez sua estreia nesta formação, a comissão foi composta por profissionais que já haviam participado de outras comissões: Marisa Lambert – 2ª, 6ª, 7ª, 10ª; Ana Francisca Ponzio - 2ª, 10ª, 11ª, 13ª; Amaury Cacciacarro Filho - 10ª, 11ª; Alexandra Itacarambi, 7ª; Ana Cristina Teixeira, 12ª; e Elaine Calux, que acompanhou os trabalhos das comissões de 2009 a 2012, período em que coordenou o programa junto à SMC.

De forma inédita, as 54 propostas inscritas para avaliação estavam habilitadas, de acordo com os critérios formais – estabelecidos pela Lei e Edital – e conceituais do Fomento, sendo que 33 haviam sido contemplados ao menos uma vez, 13 participado anteriormente sem ter ganhado e oito concorriam pela primeira vez como proponentes artísticos.

Os trabalhos da equipe de seleção dos projetos tiveram início com uma discussão sobre a complexidade do processo de análise, tendo em vista a tônica constante de grupos /artistas de longa trajetória concorrendo com artistas mais jovens e o número elevado de núcleos participantes nesta edição, além da alta qualidade das propostas, questões recorrentes nas discussões de bancas, conforme pode ser constatado em devolutivas anteriores.

Numa primeira leitura de todos os projetos, surgiu um conjunto potente com proposições que mostraram, em certa medida:

-  Estruturações pertinentes dos projetos;

-  Coerência na pesquisa de continuidade (relação com o fazer do núcleo artístico);

-  Ideias sobre o desenvolvimento das ações colocadas apropriadamente;

Principais dificuldades encontradas por esta comissão:

 – Como contemplar artistas de trajetória mais consolidada e jovens artistas, que também estão produzindo? Como abordar diferentes experiências ou vivências artísticas?

– Será que o Fomento pode ser considerado como um edital para formação de artistas?  Como situar esses projetos? com que recorte o fomento deve trabalhar?

– Artistas que trabalham em rede através de plataformas digitais, tecnologias e mídias alternativas – Será que estamos ou somos aparelhados para avaliar esse modo de organização artística – a “dança e as novas mídias”? Quais os critérios atuais para avaliar a arte da dança no corpo e o corpo em suas intersecções?

No conjunto dos projetos, as propostas lançadas pelos núcleos estavam voltadas a:

·         Trabalhos direcionados à dança para crianças;
·         Trabalhos de matriz popular;
·         Solos;
·         Trabalhos com propostas de deslocamento do público para fora das salas de espetáculo;
·       Projetos com foco em arte-educação (questões sobre o aspecto artístico e a dimensão pedagógica);
·         Projetos com foco no intercâmbio de linguagens – na maioria a dança é que se contamina de outras áreas, mas também há propostas de outras linguagens que incorporam a dança – partem da música, do circo, das artes plásticas para a dança;
·         Grupo de residência e de formação. Há muitos artistas que são formadores em potencial e acabam sendo responsáveis por vários outros grupos e novos projetos;
·         Projetos aparentemente mais voltados a trabalhos acadêmicos.

Questões levantadas durante o processo de seleção:

Questões já problematizadas em outras comissões, como por exemplo: como entender o que vem a ser trajetória consolidada, Pesquisa em dança, Pesquisa continuada, Núcleo Artístico? Sendo o Fomento a única possibilidade de trabalho dos Núcleos, via município, como o Programa pode dar conta da demanda atual? Que outros precisam ser criados Que outras estratégias devemos desenvolver?

Que tipos de trabalhos e propostas, de fato, o Fomento consegue acolher?

Como entender as habilidades e competências de um profissional em dança hoje? E formação de diretor, propositor, consultor, coreógrafo, produtor, formador, escritor, crítico, performer, e assim por diante? Aqui, uma questão de fronteiras e maleabilidades – o que ainda se define como próprio da dança?

Como o programa participa do cenário no mercado de trabalho?

Ponderações fundamentais:

– Coerência entre projeto e orçamento.

– A relação entre trajetória de pesquisa continuada e proposta artística para o projeto inscrito.

A importância da continuidade para grupos que já possuem um trabalho consistentemente construído, uma maturidade artística reconhecida. Tal ponderação lança a questão sobre a criação de mecanismos, dentro do próprio fomento ou não, para que tais artistas possam trabalhar sem imediatismos, com perspectivas de, pelo menos, médio prazo, para que não se tornem reféns permanentes dos editais. Contratos renováveis de três a cinco anos com a contrapartida tão somente de criação/produção? Seria talvez um começo, inserido em um processo permanentemente em avaliação.

-   A constatação de que há muito mais merecimento que recurso.

Observações estruturais neste XV Edital:

- Apesar de surgirem conexões difusas entre processos e produções cênicas na apresentação das contrapartidas de alguns dos projetos analisados, de um modo geral, estas foram inseridas de forma conectada com o objetivo central, indicando uma organicidade entre o pensar e o fazer.

- Como procedimento de análise de conteúdo, a comissão baseou-se principalmente na contribuição à pesquisa e à reflexão sobre significados, sentimentos, ideias, qualidades, motivações e expectativas engendradas por cada proposta.

- É importante ressaltar que, ao elencar os pressupostos norteadores nas proposições, a apreciação teórica nunca esteve desprendida da tentativa de entendimento dos conteúdos, da identificação das ações e dos recursos expressivos, da história e contextualização do núcleo artístico dentro do fazer dança e da questão da construção estética a partir da pesquisa de linguagem.

- Dentro desta perspectiva, inclusive, vale ressaltar que os DVDs foram um detalhe importante nesta edição, por apresentarem uma qualidade superior em relação às edições anteriores. Serviram, em boa parte dos casos, como aliados na elucidação dos projetos.
Ficou, portanto, evidenciado nesta edição o que se anunciava já há algum tempo por seguidas comissões:

·         Edição após edição há um crescimento, não apenas do número de concorrentes, como também da qualidade intrínseca em cada projeto.

·         Os instrumentos dispostos de avaliação não são suficientes para auxiliar a comissão na base dos trabalhos. Para ilustrar o esforço coletivo empenhado nessa complexa incumbência, após dois dias de trabalhos, com discussões e problematizações minuciosas sobre os conteúdos em prol dos projetos, conseguiu-se destacar 32 projetos de núcleos artísticos para destes, selecionar apenas 14. Ao todo foram realizadas seis reuniões, cada uma com cerca de quatro horas de trabalho, para se chegar ao resultado.

·         Irrefutável também que os 11 pontos norteadores elencados pela classe da dança no documento elaborado em 2011, dentro da atual realidade pouco acrescentam ou contribuem.

Considerou-se, em diferentes momentos do percurso de seleção deste edital, a possibilidade de vê-lo como um divisor de águas, momento bastante oportuno para se discutir criticamente o papel da comissão na avaliação e levantar possibilidades de outras ferramentas para instrumentalizá-la nos procedimentos de análise.

Quais poderiam ser estas outras ferramentas? Outras possibilidades de se fazer a seleção do fomento?

Seria possível a comissão trabalhar em outra dinâmica, uma vez esgotadas as possibilidades de avaliação e escolha dos projetos dentro de um universo tão amplo como o apresentado?

Propostas:

– entrevista com os núcleos artísticos proponentes, para que cada um possa explanar ainda mais a proposta, os objetivos, em que ponto o projeto artístico tange o fazer de determinado grupo/artista;

– Divisão da seleção por etapas, incluindo-se uma audiência pública.

O impacto da percepção consciente de que o formato da Lei/Edital de Fomento não consegue atender plenamente as demandas de produção, circulação e manutenção dos artistas da dança contemporânea evidencia o atual momento como propício para se discutir necessidades, estabelecer prioridades e buscar novas configurações que possam abranger a pluralidade que constitui a dança e contribuir com a contínua revisão e aprimoramento do programa.

Elaine Calux

Alexandra Itacarambi

Amaury Cacciacarro Filho

Ana Cristina Teixeira

Ana Francisca Ponzio

Mariana Muniz

Marisa Lambert